segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Crepúsculo lovers, chupem essa manga!

Assisti ao filme The Runaways, que conta a história da banda feminina homônima que foi sucesso nos anos 70. O filme é ótimo. Estupidamente rock’n roll, retrata fielmente os figurinos exagerados, criativos, o rock gritado e sua atmosfera esfumaçada. A ênfase é dada às histórias da vocalista Cherrie Currie e da guitarrista Joan Jett (foi ela quem gravou a versão mais famosa da música I Love Rock’n Roll, que depois a figuraça da Britney Spears deu um jeito de transformar em pop – o que aliás não ficou ruim em termos de som, mas é um contra-senso tenebroso). Enfim.
O detalhe é que quem faz a Joan Jett é ninguém menos que a fofíssima Crepúsculo-girl Kristen Stewart. Eis então o motivo de tornar justificável o meu modesto título.

Embora essa atriz fuja do estereótipo Barbie loirinha do olho azul, ela continua integrando o time das mocinhas fofinhas de filme infanto-juvenil. Quando vi que era ela quem ia fazer o papel de uma adolescente roqueira lésbica e drogada, de cara apostei que seria piada. Mas bastaram as primeiras cenas pra que eu me retratasse do erro. A crepúscula definitivamente conseguiu se auto-exorcizar, e está fantástica na interpretação.

Outra que teve bom desempenho foi a Dakota Fanning, a despeito da sua carinha de anjo (a Cherrie Currie original era bem mais agressive rock’n roller). Aliás, tive que bancar a tia e largar um “nossa, como ela cresceu!” porque a gente lembra dela quando criança, e agora vê a menina de espartilho e cinta-liga apavorando no punk rock.

Ao final das contas, o filme não é só interessante por colocar em evidência uma banda de adolescentes que deixou um bom legado musical. É especial também por ter retratado uma época diferente, acabando por esculachar essa geração atual teen/jovem meio abobada.

Confesso que, de leve, gosto do caos - e vai ser engraçado ver a revolta da geração teenager-fofa com a sua ídola crepúscula travestida de punk hard rocker, cheirando pó e dando uns pegas na Dakota Fanning.
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Trailler do filme: http://www.youtube.com/watch?v=OTpdXKocacQ

domingo, 9 de maio de 2010

Perfil

Não tinha exatamente uma Harley Davidson, mas viajava por aí. Conhecia gente cá, gente lá, dormia em qualquer canto. Tinha obsessão por histórias, gostava de contá-las. E de ouvi-las. Das mais variadas. Viagens, sensações, pessoas.

Amava a música. Jamais conseguira definir o que achava melhor, o som de uma guitarra num solo eletrizante ou um saxofone deslizando suave. E preferia não definir, era só uma questão de espírito. Tudo era uma questão de estado de espírito, na verdade. Por vezes passava longos dias sem produzir absolutamente nada, com preguiça do mundo. Mas isso não significava que sua eloquência e expressão não estivessem lá, borbulhando, aguardando o melhor momento pra explodir.

Gostava de pensar nas pessoas, nas suas formas de agir, de produzir. Pensar no que fazia delas serem o que eram.

Tinha fascínio por aquela pitada generosa de loucura e ousadia, que acometia somente poucos.
Achava, por exemplo, o Caetano bem mais doido que o Roberto. Não que o último não fosse, mas essa coisa de chamar o cara de Rei acabava elitizando demais a sua figura. Acabava por ofuscar o movimento semi-contraventório que ele outrora representara – sim, porque a Jovem Guarda havia sido meramente ditadora de moda, pensava.
Lhe interessava a transgressão, e a do Caetano lhe soava mais autêntica.

Embora achasse também que ultimamente as coisas andassem meio paradas. Nada de golpes de estado, ditadura, torturas, aquela coisa verdadeiramente punk que movia os artistas a protestarem com suas letras mordazes.
Os possíveis artistas contraventores agora se inspiravam em coisas bem mais amenas.
Pensando bem, o protesto da atualidade já não tinha mais aquele magnetismo boêmio de antes. Talvez por isso acabasse por subestimá-lo. Erroneamente, sim. Sabia que eram apenas outros tempos...

E o tempo então... que se esvaía tão rápido. Tinha tanta coisa pra contar!
Se pudesse, congelaria seus melhores momentos pra que não se acabassem nunca mais. Bem, de certa forma podia fazê-lo através das fotografias. Mas essa era só mais uma maneira de humanamente fazer o impossível: parar o tempo.

Agora, pela enésima vez, arrumara sua pequena mala... iria viajar. Não sabia pra onde. Só sabia que era inevitavelmente feliz. Apenas lhe apreciava viver.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Depois da tempestade, a bonança

O que somos diante da fragilidade das nossas vis carcaças humanas?
Nada.
Se tu estás vivo agora é porque és integralmente produto da sorte – ou de qualquer outra coisa que queiras chamar.

Sorte de não ter caído-lhe um raio sobre a cabeça enquanto saía de casa na tempestade de hoje. Sorte de não ter sofrido uma mutação numa célula. Sorte por ter saltado de pára-quedas e ele ter aberto na hora.

Claro, podemos nos proporcionar uma certa segurança. Desde não expor-nos ao raio até a tentar compensar os carcinogênicos de um cigarro comendo brócolis depois.
Mas nada nos faria deixar de ter um câncer, ou deixar de ter a cabeça partida por um raio, se isso fosse o que teria que acontecer.

A morte não é nada além dessa certeza irrefutável, tão mórbida e cruelmente imposta.
Somos nada diante dessa força. O que nos faz ser o que somos é a gana de viver, de aprender, de ser feliz. Poder chorar, poder errar, acertar, arrepender-se é maravilhoso. Poder estar viva e amar a vida é magnífico.

Quero acreditar que o tempo que fez hoje em Porto Alegre explicou tudo o que aconteceu contigo, meu padrinho querido.
Primeiro a tempestade, vento forte, alagamentos, intempéries. E no fim do dia, a calmaria, um sol tímido e um céu quase todo azul, mostrando que tudo estará bem de agora em diante.
Lutaste bravamente, com toda a tua força de vontade. Orgulhaste-nos! E tua peleja não acabou por aqui. Vai em paz

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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Desgosto


Ele odiava revistas de banheiro. Aquelas mesmo, que ficavam num cestinho do lado do vaso sanitário.
Aquelas pútridas revistas, pensava, o fitavam com escárnio. Ficavam lá esperando para serem lidas, e tinham absoluta certeza de que o seriam, por isso riam-se dele.


Sabiam, as malditas, que naqueles momentos de solidão não se havia mais absolutamente nada interessante a fazer.

Riam-se a ponto de humilhá-lo: sabiam que ele não resistiria folheá-las, mesmo tendo plena consciência da variedade incontável de coliformes fecais espalhados pelas páginas - desde os descaramentos da politicagem até as seções enfadonhas de variedades para patricinhas.

Era o que se tinha de mais cômodo àquele instante; detestava reconhecer que era informação adquirida puramente via goela abaixo.

E também achava repugnante ter que umedecer o dedo na língua pra poder trocar de página. Porém só o percebia depois de já ter engolido.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Banho de Vini



O HAVER

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima ped
indo perdão por tudo
- Perdoai! eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo que existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lent
a decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir na madrugada pass
os que se perdem sem memória.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de sua inútil poesia e de sua força inútil.

Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhado
De pequenos absurd
os, essa tola capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem de comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será e virá a ser
E ao mesmo tempo ess
e desejo de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não têm ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidad
e, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos

E essa impressionante e desnecessária
presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e ess
a pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta essa obstinação em não fugir do labirinto
Na busca desesperada de uma porta quem sabe inexistente
E essa coragem indizível diante do grande medo
E ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer dentro da treva.

Resta esse des
ejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem história
Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento
Esse abandono sem remis
são à sua voragem insaciável
Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços
E esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio
Pelo momento a vir, quando, emocionada
Ela virá me abrir a porta como uma velha amante
Sem saber que é a minha mais nova namorada.



SONETO A QUATRO MÃOS

Tudo de amor que existe em mim foi dado
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.

Vinícius de Moraes e Paulo Mendes Campos

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Compre ColorFlu

Certa vez houve no planeta o que depois ficou conhecido como “A Grande Praga”. As pessoas estavam em pânico. Era o fim do mundo. Ocorrera que os microrganismos entraram em guerra contra as sociedades humanóides. Vírus e bactérias de toda sorte alastraram-se feito gripe suína. O noticiário anunciava milhares de mortes a cada dia. Ninguém sabia mais o que fazer para livrar-se da nova peste. Surge então a propaganda de maior audiência já vista. A dos comprimidos ColorFlu.
As indústrias capitalisticamente farmacêuticas haviam assumido o posto de escudo dos humanóides. Prometiam curar para sempre as novas doenças, e os preços, claro, eram proporcionais à importância irrefragável do medicamento. Todos, a menos que preferissem morrer, deveriam comprar e curar-se. E os sortudos que ainda não haviam contraído a peste, deveriam fazer uso para fins de profilaxia.


Logo, o sentimento de “e agora, quem poderá nos defender” dava lugar à esperança. As comadres nas janelas esqueceram-se da vida da vizinha e só falavam no novo remédio. Os homens traídos perdoaram as mulheres. Os padres acabaram com seus jejuns. As notícias de mortes estavam esquecidas e as pessoas estavam felizes de novo!
As indústrias, visando atender a todos os gostos, lançaram comprimidos de todas as cores. Certa noite um galã de cinema apareceu no noticiário testemunhando sua cura através do verde. Em pouco tempo, a última tendência em comprimidos era o verde. Era o top das vitrines das farmácias. Todos queriam verde.

Claro que sempre havia os que estavam indignados com o que estava acontecendo. Socialistas-stalinistas-heloisas-helenistas-de-esquerda mobilizavam protestos fervorosos em favor do comprimido vermelho. Toda a sociedade deveria receber somente comprimidos vermelhos, e o estado tomaria conta da distribuição igualitária.
Anarquistas-punks-radicais-de-fim-de-semana também organizavam seus protestos. Defendiam o A da anarquia impresso em todos os comprimidos, e depredavam patrimônio público e privado - embora isso eles já fizessem antes sem motivo aparente.
Skin-Heads-neo-nazistas exigiam que as farmácias suspendessem as vendas para os judeus.


Contudo, a propaganda ainda estava fervendo nos meios de comunicação. Famílias felizes no café da manhã comiam pão com margarina e recomendavam ColorFlu.
Depois de algum tempo, novas tendências nos formatos dos comprimidos apareceram no mercado, na medida em que eram sugeridos pela telenovela.
Um dos formatos que não obteve o menor sucesso foi o de estrela, uma vez que milhares de pessoas tiveram suas gargantas perfuradas ao ingerirem. Com o ocorrido, mobilizaram-se contra as indústrias farmacêuticas. Fizeram protestos, queriam indenizações homéricas por conta das escoriações sofridas. Os que ingeriram o formato coração também uniram-se à causa, já que constataram que o remédio não fizera efeito.
Rapidamente milhões de pessoas juntaram-se e destruíram as fábricas dos comprimidos. E juravam que estavam com a razão. Afinal, era um erro dar tanta atenção à propaganda.

domingo, 14 de junho de 2009

Jumentice, dá um tempo

Frequentemente ouve-se algumas criaturas apregoarem por aí que não acreditam em Deus por causa da singela justificativa de que “As pessoas estão sempre procurando algo para explicar as coisas”.
Eu acho de uma ignorância hilária botar a culpa dessa questão absurdamente complexa no fato de as pessoas humildemente quererem explicar o que não lhes está ao alcance.

Eu, de minha parte, acho maravilhoso que antepassados nossos tenham buscado explicações pras coisas...
Como é que nossos pais teriam nos contado como surgem os bebês se não fosse a magnífica tese da cegonha?
Graças às justificativas das pessoas, nossos pais puderam se livrar do constrangimento de explicar pra uns pirralhos de 5 anos como é que realmente funciona, e nós pudemos manter nossas mentes infantis fartas de imaginação inocente. Maravilha!

E o que teria sido de nós, reles estudantes, se aqueles de inteligência e falta do que fazer imensuráveis não tivessem buscado explicações pras coisas e então mastigado todas as fórmulas prontinhas pra nós?
De absoluto seria o caos.
Além disso, os Isaac-Newtons de hoje teriam que ser obrigatoriamente do naipe daquele seu amigo nerd esquizofrênico que todo mundo tem medo!
(Não que esquizofrenia esteja sempre ligada à nerdisse, e também não que esquizofrenia seja ruim, já que está quase sempre intimamente ligada aos gênios – que por sua vez não são nerds em específico. Enfim).

Eu realmente sou grata àqueles que vieram primeiro e justificaram coisas das quais não precisei me prestar a. Imagina o trabalhão que daria ir até Marte ver que realmente não tem marcianinho lá?

Aí esses adeptos do ceticismo – aliás, coisa que é ignorância da mais jumenta especialmente porque só almeja não ser ignorante - vêm pôr a culpa de Deus existir ou não nos pífios humaninhos que pensam explicar tudo. Bem, estamos esperando vocês seres superiores justificarem-se melhor então...

Se bem que eu acharia tanto melhor se deixássemos pra lá, porque esse negócio de existir Deus ou não, na verdade é assunto exclusivo de mesa de bar. Esse e aquele do “quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?”. De preferência tomando uma bem gelada.