quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Compre ColorFlu

Certa vez houve no planeta o que depois ficou conhecido como “A Grande Praga”. As pessoas estavam em pânico. Era o fim do mundo. Ocorrera que os microrganismos entraram em guerra contra as sociedades humanóides. Vírus e bactérias de toda sorte alastraram-se feito gripe suína. O noticiário anunciava milhares de mortes a cada dia. Ninguém sabia mais o que fazer para livrar-se da nova peste. Surge então a propaganda de maior audiência já vista. A dos comprimidos ColorFlu.
As indústrias capitalisticamente farmacêuticas haviam assumido o posto de escudo dos humanóides. Prometiam curar para sempre as novas doenças, e os preços, claro, eram proporcionais à importância irrefragável do medicamento. Todos, a menos que preferissem morrer, deveriam comprar e curar-se. E os sortudos que ainda não haviam contraído a peste, deveriam fazer uso para fins de profilaxia.


Logo, o sentimento de “e agora, quem poderá nos defender” dava lugar à esperança. As comadres nas janelas esqueceram-se da vida da vizinha e só falavam no novo remédio. Os homens traídos perdoaram as mulheres. Os padres acabaram com seus jejuns. As notícias de mortes estavam esquecidas e as pessoas estavam felizes de novo!
As indústrias, visando atender a todos os gostos, lançaram comprimidos de todas as cores. Certa noite um galã de cinema apareceu no noticiário testemunhando sua cura através do verde. Em pouco tempo, a última tendência em comprimidos era o verde. Era o top das vitrines das farmácias. Todos queriam verde.

Claro que sempre havia os que estavam indignados com o que estava acontecendo. Socialistas-stalinistas-heloisas-helenistas-de-esquerda mobilizavam protestos fervorosos em favor do comprimido vermelho. Toda a sociedade deveria receber somente comprimidos vermelhos, e o estado tomaria conta da distribuição igualitária.
Anarquistas-punks-radicais-de-fim-de-semana também organizavam seus protestos. Defendiam o A da anarquia impresso em todos os comprimidos, e depredavam patrimônio público e privado - embora isso eles já fizessem antes sem motivo aparente.
Skin-Heads-neo-nazistas exigiam que as farmácias suspendessem as vendas para os judeus.


Contudo, a propaganda ainda estava fervendo nos meios de comunicação. Famílias felizes no café da manhã comiam pão com margarina e recomendavam ColorFlu.
Depois de algum tempo, novas tendências nos formatos dos comprimidos apareceram no mercado, na medida em que eram sugeridos pela telenovela.
Um dos formatos que não obteve o menor sucesso foi o de estrela, uma vez que milhares de pessoas tiveram suas gargantas perfuradas ao ingerirem. Com o ocorrido, mobilizaram-se contra as indústrias farmacêuticas. Fizeram protestos, queriam indenizações homéricas por conta das escoriações sofridas. Os que ingeriram o formato coração também uniram-se à causa, já que constataram que o remédio não fizera efeito.
Rapidamente milhões de pessoas juntaram-se e destruíram as fábricas dos comprimidos. E juravam que estavam com a razão. Afinal, era um erro dar tanta atenção à propaganda.

3 comentários:

1 z e r 0 disse...

gostei do conto, do estilo e do cenário apocalíptico que você usou.
qualquer semelhança com a campanha midiática que vivemos não deve ser mera coincidência... parabéns!
sucesso nos seus escritos e, principalmente, pela dificuldade em conciliar áreas tão distantes (a pena, ou teclado e os cálculos analíticos da engenharia), eu passo longe das exatas!
bjs
ps: depois passa lá no meu blogue e deixa suas impressões

Camilosa disse...

EU, como publicitaria descolada, defendo a mídia. Vocês, humanóides, estejam atentos as nossas malandragens de manipulação, nosso objetivo é desviar seu foco. =D ColorFlu lilás em formato de pônei é o ta rolando na cidade grande, e você, ta esperando o que pra adquirir o seu? Entra na moda! ARRRRAAAASA! husahusahu s2 sua linda, adorei o post

Rodrigo Mello Campos disse...

aposto que tinha também caras que viviam na comunidade auto-sustentável que criaram seu próprio collorflu versão chá de cidreira que era exportado para Holanda.

Sem contar nos políticos que fizeram estoques dos remédios a fim de distribuir esperando votos nas próximas eleições.