quinta-feira, 22 de maio de 2008

Humor Cogumelo



Férias. Tarde fria e chuvosa, estava ela à toa em casa. Resolve ligar a televisão e ver se a programação continuava aquela merda de que se lembrava. Logo vê a Brooke Shields bronzeadérrima nadando na praia. Simplesmente não acredita que ainda passam Lagoa Azul na Sessão da Tarde. Troca de canal. Assiste a apresentadora anunciando: “Tamires tem 15 anos e diz: Eu não gosto de usar calcinha. Tamires, entre por favor! (palmas).” Meu Deus, pensa, até onde chega a estupidez humana? Esperançosa, troca de canal novamente. “Oh, Maria Mercedes Esmeralda do Bairro, eu te amo muito mais que meu irmão Carlos Daniel Eduardo Costa Bratcho, dê-me uma chance por favor, morrerei aqui mesmo de desgosto, vou me esvair em lágrimas...”
Bem, percebe enfim que está na hora de procurar algo diferente pra fazer. De repente sente fome. Vai até a cozinha, procura no armário algo pra comer, ao que vê um pacote de macarrão instantâneo. Feito! Nas férias havia esquecido o que é comer Miojo. Prepara-o, volta pra sala, liga uma música. Olha pro macarrão e já com água na boca (sim) se prepara para dar a primeira garfada. Percebe então que está com frio e resolve buscar um cobertor.
Larga o prato sobre a mesinha e no caminho, sem perceber, recorre à sua antiga mania de enrolar uma mecha de cabelo, assim à la Conde de Monte Cristo mesmo. Começa a pensar em nada, pega o cobertor inconscientemente e volta pra sala, sem perceber se ajeita no sofá, se cobre e continua a enrolar a mecha de cabelo comprido. Olha pra ela fixamente, concentra-se inteiramente naquilo. Sem piscar. Enrola. Esquece-se da fome. Enrola o cabelo. De repende tudo o que vê é um mundo desfocado à sua volta... e a mecha. Gira a mecha. Alguém ao seu redor... gira. Ao som daquela psicodelia que pusera tocar, via borboletas azuis circundando seu cabelo que rodava, rodava, para o infinito até a porta do céu... até a lâmpada vermelha que se infiltrava nas fotos e nos porta-retratos da estante esfumaçada... E ela de mãos dadas com a Maria do Bairro e com a mesinha, que girava, girava, girava... Pelos cabelos de macarrão, no meio do prato que gira, numa roleta infinita, cheia de cores e flores... Além de passarinhos loucos atrás de macarrão amarelo com molho de galinha caipira, tv’s redondas coloridas cheias de paz e amor, cheias de ilusões de ótica... E visões cheias de um espelho com a cara dela refletida, sendo segurado pelo seu irmão à sua frente, que teimava em fazê-la enxergar a si mesma e finalmente perceber suas pupilas dilatadas e sua expressão fascinada...

- Seu filho da mãe, estraga prazeres.

Mariana Somariva

7 comentários:

Lucas disse...

"A televisao sem som eh um bonito quadro"

cazuza


soh vale a pena quando ela faz valer a pena!

Unknown disse...

parabens moça...
vc escreve como Clarice Lizpector..
gostei..
Monica

Unknown disse...

Mareeeeee... o0...
fantástico... "debaixo do meu nariz" e eu nem sonhava... o livro vai ter uma página dedicada à mim né ? hehehehehehe
acabas de ganhar uma leitora que ainda vai te pedir um autógrafo
Bjão

Tamara disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tamara disse...

tive que criar uma conta s� pra escrever umas palavras aqui! que coisa!

voc� sabe que escreve bem amore, vim aqui alimentar o seu ego!

;@

Unknown disse...

":O
essa água da tua boca é potente, hein?? OLOKO!

Marcelle disse...

Adorei o texto. Principalmente a clareza da descrição do prazer que sente quem tem essa antiga mania de enrolar uma mecha de cabelo, assim, à la Conde de Monte Cristo mesmo... :)