quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O caso do fetiche da rapariga

O Robertão acordou todo arranhado durante a madrugada e a Carmencita já tinha ido pra casa do marido. Ela tinha avisado mais cedo, depois do forró, que precisavam ser rápidos, pois o marido logo iria acordar pra ir pra padaria.

Ela era assim do tipo ‘dada’. Chegou em casa quase amanhecendo, pé ante pé, a fim do João do Pão continuar com sua roncadeira estrondosa e nem desconfiar que a mulher passara a noite na gandaia. Deu uma bagunçada no cabelo, pôs a camisola furada e deitou-se. Lamentou ter de suportar a barulheira do português barrigudo, mas pôs-se a dormir antes que ele acordasse.

O João do Pão, como era de se esperar, pontualmente levantou-se e foi cuidar do pão francês. Deu uma olhada na Carmencita e sem querer notou uma unha vermelha da mão dela quebrada, e uma mancha roxa no pé da orelha. “Mas que rapariga desastrosa, ora pá! Está sempre coberta de machucaduras, já disse a ela para cuidar-se, mas nunca me ouve, ó Deus!”

Pôs seu suspensório e a boina, ajeitou o bigode e foi para a trabalho. O Robertão chegou logo após, todo apressado e vestindo um blusão que tapava os braços e parte do pescoço.

"Estás louco, ó gajo? Neste calor usas tanta vestimenta assim? Só Deus para entender esses moços de hoje em dia! Trata de apressar-te, os primeiros clientes já estão a chegar!"

Carmencita tratou de levantar e ir logo para a padaria também. E ela despistava o João do Pão sempre que podia:

“Benzinho, quando é que tu vai mandar embora esse tal de Robertão hein? Ô sujeitinho insuportável!”

“Larga de bobagem ó mulher! Roberto é um rapaz trabalhador, quando vocês dois somem de repente da padaria o gajo me faz uma falta danada no trabalho!”

E assim ela ficava mais tranqüila pra abusar na ‘sacanági’. Tinha até um fetiche, que há pouco tinha convencido o Robertão de realizar-lhe. Porém neste dia foi crucial... A Carmencita teve até medo de cair na sarjeta de vez. Deu o azar do João chegar lá na cozinha bem na hora em que os dois estavam completamente à vontade a ponto de realizar o fetiche da moça.
O João, claro, quase teve um treco. Levou uma mão ao peito e ajeitou os óculos para ver se estava enxergando direito tamanha pouca vergonha. Enfurecido, não se conteve:

“Saaaaaiam já de cima da minha mesa de amassar o pão! Onde já se viu esfregar esse uniforme imundo cá em cima?? Se o que querias era limpar a mesa por que não me avisaste logo ó criatura? Acabo de voltar da lavanderia com estes panos limpos! Assim tu me irritas ó Carmencita, mal viro as costas e vocês tomam conta da minha cozinha como se fosse de vocês, ora pá!!!”

A rapariga recompôs-se logo:

"Avisei esse idiota para parar com essa mania de limpar a mesa do pão, benzinho. Ainda acho que você deveria demitir esse ogro! Me perdoa, meu bigodudinho?”

“Está bem Carmencitinha, está bem. Estás perdoada, minha flor de maracujá!”

E o Robertão, que até o final desse texto não havia dito nada, num murmúrio teve a constatação mais sábia de toda essa história: "Puta que pariu, Corno é foda!"

Mariana S.

Um comentário:

Unknown disse...

Robertão era, obviamente, a figura metalingÜística que nos retorna ao passado grego, dos grandes filósofos... Mais precisamente àquele chamado Aristóteles.
Duvida?

Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.)
Filósofo da Grécia antiga, destacou-se por procurar construir seus conceitos a partir de constatações das realidades do mundo observável[constatação de que "corno é foda!"], tendo deixado também contribuições propriamente científicas[a exploração do âmbito psicanalístico no momento da realização de uma fantasia sexual].